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Agronegócios

Guerra comercial de Trump impulsiona setor agrícola do Brasil, pressiona Iowa


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A torre de 20 andares do condomínio de luxo Bella Vita se ergue sobre a cidade de Luís Eduardo Magalhães, no Estado da Bahia. Seu cinema e heliponto são símbolos do quão longe a comunidade agrícola chegou apenas 18 anos após sua fundação.

Os produtores locais de soja desembolsam mais de meio milhão de dólares para viver no complexo. Os vendedores de equipamentos agrícolas, concessionárias de veículos e lojas de material de construção nos arredores também estão efervescentes.

Enquanto isso, quase 5 mil milhas ao norte, na cidade de Boone, no Estado norte-americano de Iowa, os agricultores estão encolhendo.

Em um recente evento comercial do setor agrícola, o produtor de milho e soja do Iowa, Steve Sheppard refletiu sobre o clima de cautela.

“Eu não estou comprando nenhum maquinário, não estou gastando dinheiro algum”, disse Sheppard.

Dois países diferentes, mesmo negócio. Duas sortes muito diferentes. Uma razão: a China.

A crescente guerra comercial entre os Estados Unidos e a China está reordenando os negócios globais de grãos. Em resposta às tarifas da administração de Donald Trump sobre produtos chineses, Pequim impôs este ano taxas sobre produtos agrícolas norte-americanos.

Entre elas, uma tarifa de 25 por cento sobre a soja, a exportação agrícola mais valiosa dos EUA. As vendas de oleaginosa dos produtores norte-americanos à China totalizaram 12 bilhões de dólares só no ano passado.

As consequências chegaram rápido. A China, o maior importador de soja do mundo, tem reduzido as suas aquisições do grão norte-americano para alimentar seu massivo rebanho de porcos.

O gigante asiático está se voltando ao Brasil, que há duas décadas se aproveita da onda da demanda chinesa para se tornar uma potência agrícola global. As exportações de soja brasileira à China tiveram uma salto de 22 por cento no valor entre janeiro e setembro, em comparação à igual período há um ano.

Os produtores brasileiros não estão apenas vendendo mais oleaginosa, mas o valor do seus grãos chega superar em 2,80 dólares por bushel a soja dos EUA, ante um prêmio de apenas 0,60 dólar no ano passado, graças ao aumento das compras chinesas.

Os preços da soja norte-americana, entretanto, recentemente atingiram mínimas em uma década. O valor, segundo produtores, está abaixo dos custos de produção.

O recuo tornou o setor agrícola um empecilho para a saudável economia norte-americana. A administração Trump disse em julho que gastaria até 12 bilhões de dólares em fundos de contribuintes para ajudar a compensar as perdas dos produtores causadas pela disputa comercial, embora exista a possibilidade de que o pacote de auxílio seja reduzido.

Muitos agricultores norte-americanos, eleitores esmagadoramente conservadores que ajudaram a impulsionar Donald Trump à presidência, continuam dando apoio ao seu líder. Eles acreditam que ele eventualmente negociará um acordo comercial melhor com a China, cujo apetite por soja é tão grande que não consegue ser suprido totalmente apenas com a soja norte-americana.

Porém, por enquanto, as políticas comerciais de Trump estão entregando uma preciosa participação no mercado ao Brasil, o maior competidor agrícola dos EUA. Alguns temem que a perda de território será difícil de ser retomada depois.

“Notícias ruins sobre as tarifas nos EUA são notícias boas para eles”, disse Robert Crain, gerente-geral para as Américas da comerciante de máquinas AGCO, sobre os produtores brasileiros em uma entrevista durante o evento em Iowa.

BOON AO BRASIL

Assim como seus correspondentes norte-americanos, os agricultores do Brasil produzem muito mais grão do que é necessário para o mercado doméstico. Os clientes estrangeiros são responsáveis pelo boom agrícola do país. Cerca de 80 por cento das exportações de soja do Brasil tem a China como destino.

A cidade de Luís Eduardo Magalhães é a prova da importância desse comércio internacional. Localizada na Bahia, com plantações se estendendo em todas as direções, a região atraiu 85 mil pessoas em menos de duas décadas. Isso é mais do que tem Sioux City, a quarta maior cidade de Iowa.

Grandes empregadores de Luís Eduardo, como a maioria chama a cidade, incluem fábricas de fertilizantes, produtores de sementes e processadores de soja e algodão. “Na verdade, estamos em uma região que depende 100 por cento do atividade agrícola. Nada existia aqui antes do agricultura”, disse Carminha Maria Missio, agricultora e presidente do sindicato local de produtores.

Enquanto a economia do Brasil no geral está presa em uma vala, o setor agrícola teve crescimento de 13 por cento no ano passado. A concessionária da John Deere em Luís Eduardo viu suas vendas subirem 15 por cento em 2017 e espera um aumento de dois dígitos de novo neste ano, disse o sócio-diretor Chico Flores Oliveira.

O mercado imobiliário local está em crescimento também. Outro condomínio de luxo deve ficar pronto no ano que vem. Casas de família estão brotando pela cidade. Os preços das terras agricultáveis subiram 37 por cento desde 2012, de acordo com a consultoria Informa Economics IEG FNP.

A área total de soja do Brasil deve aumentar para um recorde de mais de 36 milhões de hectares nesta temporada, devido a demanda robusta da China, segundo uma pesquisa da Reuters com analistas.

Os agricultores do país também estão otimistas com a eleição presidencial. O candidato de direita, Jair Bolsonaro, que está na liderança das pesquisas, indica apoio ao setor, que se queixa de multas ambientais.

Assim como Trump, Bolsonaro é cauteloso com a China. Mas os produtores brasileiros acreditam que ele não estragará o comércio.

“Os produtores rurais apoiam enfaticamente o Bolsonaro”, disse a deputada Tereza Cristina, líder da poderosa bancada agrícola do Congresso. “Nós temos acesso a ele… e eu tenho certeza que ele é inteligente e sensato.”

Fonte: Reuters
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